sábado, 13 de agosto de 2011

Vivi um amor à pinceladas


   Andando pela rua apressado, algo chamou-me a atenção,  achei uma tela branca jogada ao lixo, havia somente alguns furos imperceptíveis que as traças causaram, mas, não impediam de ser pintada. Levei-a para minha casa. Coloquei em cima do pedestal, já está tarde, está muito cansado, o corpo pedia um banho e a tristeza de dormir sozinho não ajudava ter inspiração para pintar. Saindo do banho, cai diretamente na cama, estava carente, nunca havia sentido tanta solidão, o frio intenso da noite fazia-me encolher junto aos lençóis ao mesmo tempo remexia ansiosamente, sentia a cama um imenso espaço abandonado  sem algo que cariciasse meus desejos. Acendi a luz, vesti o roupão e fui ao ateliê. Coloquei o jaleco e peguei a espátula de cores, comecei a embolsar o que sentia naquele momento, minha vontade era de usar todas as cores da vida, mas contentava com as que tinham, fazia combinações que expressavam minha dor, borrava  a tela quando lembrava da dor, desenhei  formas abstratas, que somente as palavras poderiam dizer o que significava, pintei o sol, logo vinha o eclipse, depois vinham às nuvens e a tempestade inundava minha cena, fazendo lambança;  Parei de pintar naquele momento, já estava cansado, precisava trabalhar no dia seguinte, despir do jaleco, deitei-me mais aliviado.
   Quando acordei pela manhã, fui ao ateliê fintei meus olhos no quadro, estava em branco, esfreguei os olhos, olhei novamente, estava completamente límpido! Não acreditei! Fui para o trabalho apressado, perturbado com aquela sensação de está louco ou sonhando acordado. No meio do caminho, recebo uma ligação, era de um amor antigo, por mim pouco compreendido. Atendi, falamos um pouco, decidi juntar minha confusão com minhas emoções e desviei o caminho, fui ao encontro do amante. Chegando lá, ele não estava só havia uma rosa que não foi retirado os espinhos, em sinal da minha amarga retribuição ferindo com espinhos os seus sentimentos. Peguei a rosa com cuidado, levei para casa, o tempo nublado deprimia a minha alma, estava vazia, a rosa fazia-me companhia em meia a solidão.
   Chegando a minha casa, fui novamente ao ateliê, o quadro não estava mais em branco, havia uma pintura de uma rosa vermelha, semelhante a que está em minha mão. Percebi algo diferente no quadro, não era algo em comum, era algo fantástico, envolvi-me completamente em sua inspiração, daquela rosa que havia pintada, com algumas pinceladas, transformei- a em um belo buquê. Passou mais um dia, vive um novo encontro, chegando em casa,  vi outro retrato, havia uma noite linda e dois casais sentados a beira da praia olhando a bela lua pintada. Empolguei completamente, o quadro deu-me motivações amorosas, para pintar mais uma tela que ele deixava em branco ou quando chegava havia mais uma figura pintada, só tinha que acrescentar o que pulsava em minhas entranhas, minhas ambulantes lembranças da ultima paixão vivida. Houve momentos que pintei paisagens belíssimas, algumas vezes o quadro desenhava paraísos desconhecidos, eu pintava um sorriso, o quadro pintava um beijo inesquecível. Percebi que estávamos sendo cúmplice de minhas historias vividas, a cada dia ele modificava minhas pinturas, transformando-as nas mais belas figuras, ele foi tornando-me um artista, um compositor da vida. Nunca vivi tantas histórias pintadas, contadas a pinceladas, passava noite inspirado, misturando cores que davam o tom da minha manhã, do meu próximo amado.
   Tornei-me um pintor sucumbido do amor, da mais bela paixão. Cores não faltavam em minha vida, não faltava em meu dia-dia. Fiz do quadro meu diário, meu amigo, meu confidente amado. Certo dia, cheguei em casa inspirado, esperançoso de encontrá-lo em branco, mas ele estava rasgado, perdi a motivação, joguei as tintas a tela no lixo. Passaram-se dias, conheci um rapaz que gostava de poesia, falava-me não em refrões mais em pequenas cartilhas pintadas a mão, mensagens que contém parte de minhas historias, de cenas desenhadas a pinceladas rebuscadas. Começamos um belo romance, um dia ele foi a minha casa, deu-me mais uma de suas cartilhas, nela estava um retrato de um pintor frustrado, com uma mensagem: Sou um poeta de figuras vividas, desenho historias renascidas, entrei em sua vida para usar as cores do amor da alegria de um pintor, pintaremos cenas de nossas vidas, iremos encher nossa historia de pinturas vivas. 

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